Concurso Centro de Ensino Infantil - CODHAB
Autores
Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor Ribeiro e Luiz Cattony
em parceria com Nómena Arquitectura;
Colaboradoras
Yuka Ogawa e Clarisse Figueiredo.
Brasília - DF, 2016
O projeto para o Centro de Ensino Infantil parte de três questões fundamentais: a flexibilidade de sua estrutura formal, adaptável tanto ao longo do tempo como em diferentes contextos; o caráter dos espaços criados, adequados ao público infantil, exigindo, assim, uma interpretação e abordagem própria em relação ao programa de necessidades; e sua implantação, de modo que o edifício atue como mediador entre os espaços públicos e privados.
FLEXIBILIDADE A PARTIR DO MÓDULO
A estrutura básica do projeto foi pensada a partir de um módulo-base de 7,20 x 7,20 m, dentro do qual se trabalha com variações para abrigar os diferentes usos. Dessa forma, tanto é possível ter as maiores salas com vãos livres, garantindo a flexibilidade de layouts, necessária para projetos dessa natureza, como também permitir a flexibilidade do projeto para sua aplicação em terrenos de contextos distintos, uma vez que, dentro do módulo quadrado, é possível rearranjar os espaços e garantir o pleno funcionamento do edifício.
Este aspecto fica claro quando se observa as duas implantações desenvolvidas para o concurso, em terrenos distintos, em que foi possível adequar o projeto mantendo a mesma lógica de sua estrutura formal e distribuição funcional. Esta solução permite, também, ampliações futuras, uma vez que a lógica constitutiva do projeto parte de um módulo-base expansível. Além disso, a estrutura proposta visa uma economia e racionalização da construção, princípios essenciais para uma obra pública como esta.
FLUIDEZ E FUNCIONALIDADE DOS ESPAÇOS
O programa voltado para o ensino infantil exige especificidades que vão além do programa de necessidades. Na organização programática, a divisão dos setores pedagógico, administrativo e de serviços, além das áreas livres comuns, deveria garantir a integração dos espaços, mas ao mesmo tempo resguardar as atividades específicas de cada parte do programa. Os setores administrativo e de serviços foram localizados na parte frontal do edifício, uma vez que precisam de mais integração com o público externo. Isso resolve também a distribuição de fluxos e acessos.
No setor pedagógico, o programa divide as atividades entre crianças de 02 e 03 anos e crianças de 04 e 05 anos. Assim, era preciso garantir o acesso aos espaços de uso comum a todas as crianças, respeitando as diferenças entre cada grupo. Dessa forma, cada conjunto de salas de atividades, de repouso, solários e áreas comuns foi setorizado por faixa etária, distribuindo as áreas de uso comum como os pátios e horta em pontos centrais de fácil acesso a todos os grupos. O projeto garante, ainda, a diversidade de espaços necessária a um ambiente de ensino infantil, sempre permeando de áreas livres e abertas os ambientes fechados do programa.
IMPLANTAÇÃO ATUANDO COMO MEDIAÇÃO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO
A implantação do Centro de Ensino Infantil considera não apenas o terreno em si, mas todo o contexto do empreendimento Parque do Riacho. Dessa forma, o equipamento deve cumprir não só a função específica de ensino, mas também atuar como um potencial gerador de espaços públicos e livres. Ao livrar a frente do terreno, resolve-se a parte de acessos e estacionamentos, além de estabelecer uma relação mais direta com a praça localizadana frente, criando um espaço de acesso recuado, livre e com possibilidade de aglomerar pessoas e fazer a transição entre o espaço público externo e o espaço privado do equipamento. A ocupação periférica do edifício também atua como mediador entre a privacidade interna e o espaço público, evitando muros, uma vez que o próprio edifício atua como fechamento, permeando essa zona de transição com áreas verdes.
ESTRATÉGIAS DE CONFORTO AMBIENTAL
Um item fundamental para o projeto foi a forma como o edifício se adéqua às condições de conforto ambiental. A partir do entendimento das condições climáticas de Brasília e de verificações através de simulações de iluminação e insolação, o projeto buscou adotar duas estratégias principais: intensificação da inércia térmica e estratégias para melhoria em relação à baixa umidade do ar. Primeiramente, buscou-se reforçar a inércia térmica através de paredes mais espessas e com poucas aberturas. Os pátios criados atuam de forma a balancear este aspecto, voltando os ambientes para os espaços internos. É possível verificar nas simulações como o pátio coberto permite a iluminação difusa durante todo o ano. Os valores obtidos, mesmo diante da proteção da radiação direta durante todo o dia no período de verão, situam-se entre 4.000 e 6.000 lux, o que permite práticas diversas neste espaço. Durante o inverno, a radiação solar direta penetra o ambiente, sobretudo durante o período da manhã, contribuindo para a melhoria do conforto térmico e mantendo níveis adequados de iluminação de acordo com o clima de Brasília.
Outros dois elementos do edifício que auxiliam no conforto são as circulações protegidas, que geram mais área de sombra principalmente nas paredes, e os solários externos às principais salas de atividades, que atuam como atenuadores da temperatura interna dos ambientes. Brasília é marcada pela baixa umidade do ar. Um equipamento voltado para crianças deve considerar este aspecto como fundamental. Dessa forma, o projeto buscou estratégias de conforto focadas em amenizar esta baixa umidade, através de espelhos d’água distribuídos nas áreas livres estratégicas do projeto, reforçando a possibilidade de umidificação do ar e do resfriamento evaporativo.